Mais escolas ou mais professores?

Infelizmente em nosso país, o entendimento de investimento em Educação está relacionado à contratação de professores e construção de escolas. Além disso, as atenções têm sido voltadas para o nível superior, há décadas, e acabaram por negligenciar o cuidado que deveria ser dado aos professores do ensino básico.

Um professor bem preparado, preferencialmente com conhecimento de neurociências e das teorias pedagógicas, é capaz de identificar, e respeitar, o ritmo de aprendizado de cada criança, principalmente no início do Ensino Fundamental, onde a cognição e a personalidade ainda estão em desenvolvimento.

Estarão estes profissionais realmente preparados para tamanho desafio? A formação destes professores está de acordo com a qualificação profissional que se faz necessária para o dia a dia em sala de aula, tomando por base que cada aluno constitui um universo em si?

Os índices de alunos que não conseguem concluir com sucesso estes primeiros anos, e a consecutiva criação de turmas de correção de fluxo, apontam que não.

Por isso, há a necessidade de revisão dos currículos das faculdades nos cursos de formação, extensão e pós-graduação de professores. Cabe ressaltar que a responsabilidade para este investimento pertence aos órgãos públicos de Educação e não aos profissionais de ensino. Além disso, também precisamos incluir aqui a formação em serviço com cursos de educação continuada, tão necessária para a sustentabilidade da qualidade do ensino.

Assim sendo, antes de mais escolas ou mais professores, é fundamental que haja um investimento maciço na formação destes profissionais.

Anos difíceis …

Uma confusão frequente que é feita, em relação à “aprovação automática”, deve-se ao desconhecimento das características da infância nesta fase.

Nos três primeiros anos escolares, as crianças ainda estão em desenvolvimento cognitivo e psicológico. No entanto, cabe a este período, principalmente, assegurar a alfabetização/letramento e a continuidade da aprendizagem.

Ao considerar a complexidade deste processo, não é adequado metrificar em ciclos de um ano a avaliação de progressão. Também vale destacar os prejuízos que a repetência pode causar no Ensino Fundamental como um todo, além da possibilidade da evasão escolar.

Sendo assim, houve a necessidade da criação de “turmas para correção de fluxo”. Estas turmas têm a finalidade de promover uma nova atenção às crianças que enfrentaram maior dificuldade e concluíram este primeiro triênio escolar com aproveitamento insatisfatório. Não se trata de um modelo clássico de “turma recuperação”, mas de um novo formato para a construção, em um ano, do conhecimento que precisava ter sido assimilado nos três anos anteriores.

Ao concluir esta correção de fluxo, caso tenha um aproveitamento satisfatório, a criança ingressa no quarto ano.

Que cidadãos queremos?

A Educação Fundamental pública, no município do Rio de Janeiro, tem a maior rede municipal da América Latina. São 1540 escolas e mais de 600 mil alunos que, em pleno século XXI, ainda enfrentam muitos desafios antigos e, com eles, inúmeras indagações. Mas, entendo como a de maior prioridade a dúvida de quando o Governo priorizará, efetivamente, o ensino básico. Será que é tão difícil imaginar que, para colocar a cereja, é preciso um bolo embaixo? Enquanto isso, alguns alunos chegam às universidades sem, sequer, dominar a própria língua portuguesa.

Saúde e Educação: sempre unidos, sempre esquecidos

O Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) publicou, neste mês de dezembro, uma pesquisa, realizada entre os anos de 2001 e 2013, sobre como atrair médicos para as áreas mais carentes destes profissionais. Foi observado que, embora também de grande relevância, os salários e a infraestrutura não foram os fatores que mais influenciaram na escolha do local de trabalho. Os estudos revelaram que o que mais pesou na opção pela região onde trabalhar foi a proximidade dos locais onde residem ou estudaram.

Segundo as pesquisas do Prof. Dr. Mário Scheffer (Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), ocorreu um crescimento linear na proporção de médicos de 1980 (1,15 médicos/1000 habitantes) até 2015 (2,11 médicos/1000 habitantes), quando iniciou um crescimento menos acelerado e fechou o ano de 2018 com 2,18 médicos/1000 habitantes. Porém, sempre foi constatado que persiste a desigualdade na distribuição dos médicos, com maior concentração deles nas regiões Sudeste e Sul e, principalmente, nas capitais dos estados (interior do Rio de Janeiro com 2,11 médicos/1000 habitantes e o interior do Piauí com 0,01 médicos/1000 habitantes).

De volta à pesquisa do IEPS, fica demonstrado melhor custo-benefício no investimento em construção de novas escolas de Medicina, em relação aos recursos utilizados nos programas governamentais dos modelos “Mais Médicos” ou “Médicos Pelo Brasil”.

Sendo assim, penso que o Ministério da Saúde deveria rever a estratégia que visa a melhoria na distribuição dos médicos pelo Brasil, com objetivo de aumentar a abrangência da assistência à saúde em nosso país. Se a intenção é o desenvolvimento, é imperativo e urgente investir em Saúde e Educação, e não só utilizar como apenas bandeiras de campanha eleitoral.