Pandemia Nova, Conduta Antiga

Em mais uma atitude intempestiva, Wilson Witzel exonerou ontem o Secretário de Estado de Saúde, coincidentemente, quando ocorrem investigações por suspeita de superfaturamento em compras e contratos firmados pelo governo estadual. Witzel manteve o Dr. Edmar Santos com autonomia limitada, em uma Secretaria com vários funcionários da gestão anterior.

A Operação Favorito, da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF) investiga acordos obscuros na Secretaria de Saúde, na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, de Leonardo Rodrigues, e até no Departamento de Trânsito (Detran-RJ), onde o Secretário de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais, Lucas Tristão, tem grande influência.

Merece explicação o porquê do ex-subsecretário-executivo estadual de Saúde, Gabriell Neves, preso na adequadamente chamada operação “Mercadores do Caos“, promovida pelo Ministério Público e Polícia Civil, manter compras e contratos com o empresário, também agora preso, Mauro Peixoto. Vale lembrar que Gabriell Neves era Secretário de Ciência e Tecnologia do governo Luiz Fernando Pezão, enquanto Mauro Peixoto, próximo de Lucas Tristão, mantém negócios com o governo estadual desde os tempos de Sérgio Cabral.

Igualmente preocupante é a situação do principal hospital estadual para atendimento das gestantes com COVID-19. O Hospital da Mulher Heloneida Studart segue com problemas no abastecimento e pagamento dos profissionais, o que tem dificultado muito em atender os casos mais graves. A maior maternidade estadual, Hospital da Mãe, também sofre com os mesmos problemas, além de disponibilizar apenas um médico para realizar 25 consultas de pré-natal por turno, ou seja, menos de 9 minutos por consulta. Ambas as maternidades estão sob a gestão da OSS Instituto Gnosis que, conforme já havia alertado em postagem anterior (A Doença da Saúde), até hoje não consta como qualificada para maternidade no próprio site da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES/RJ).

A pandemia é nova, mas até quando teremos que conviver com estas condutas antigas?

O que há na Saúde?

Mesa redonda sobre a situação política na Saúde, destinação de verbas, Organizações Sociais, licitações, infraestrutura, profissionais, material na crise do Covid19 e outros assuntos.

Participantes:

– Dr. Sérgio Teixeira – Especialista pela FEBRASGO; Mestre e Doutor em Medicina; Pós-graduado em Governança Clínica e Segurança da Assistência.

– Dr. Carlos Eduardo R Santos – Cirurgião Oncológico do INCA; Doutor em Oncologia; Suplente de Deputado Estadual pelo Rio de Janeiro.

– Dr. André Luiz Lopes Costa – Médico Pediatra; Membro da SOPERJ, SBP, SOTIERJ e AMIB; Conselheiro do CREMERJ; Responsável pela Câmara Técnica de Terapia Intensiva; Membro da Comissão de Saúde Pública do CREMERJ.

– Dr. André Maciel da Silva – Presidente da SBCO-RJ; Diretor da Seção de Cirurgia Oncológica do Núcleo Central do CBC; Chefe do Serviço de Cirurgia Geral do HFA.

A Doença da Saúde

A principal maternidade do estado destinada ao tratamento das grávidas com COVID-19, o Hospital da Mulher Heloneida Studart, está sem medicamentos básicos para atender estas pacientes, segundo matéria veiculada na mídia ontem. Entre outras coisas, faltam sedativos e bloqueadores neuromusculares, medicamentos indispensáveis para colocar as gestantes mais graves na respiração mecânica, condição em que se encontram várias grávidas com COVID-19 que respiram com auxílio destes aparelhos. Além disso, faltam equipamentos de proteção individual (EPIs), como capotes, fundamentais para proteger os profissionais de saúde que lá trabalham.

Conheço bem o Hospital da Mulher Heloneida Studart, onde temos profissionais de saúde de alto gabarito. É lamentável que esta unidade de saúde, tão premiada por sua qualidade no passado, venha enfrentando sérios problemas nos últimos anos. O hospital tem estado sob a gestão da Organização Social Instituto Gnosis, que pediu aumento no repasse de dinheiro, para manter o atendimento.

Não é de hoje que pairam algumas dúvidas em relação ao contrato de gestão cedido a OSS Instituto Gnosis. A despeito da OSS anterior ter realizado um gerenciamento da unidade que rendeu vários prêmios de acreditação, o Instituto Gnosis venceu a licitação no final de 2017 e iniciou sua gestão em 2018. Infelizmente, não foi possível realizar uma comparação do desempenho das duas empresas, pois as prestações de contas disponíveis no site da Secretaria de Estado de Saúde são, apenas, as realizada pela OSS anterior. Não há prestações de contas do Instituto Gnosis disponíveis no site da Secretaria de Estado de Saúde.

Outra coisa que causa estranhamento é o fato da OSS Instituto Gnosis não possuir, até hoje, uma qualificação definitiva como maternidade, e ainda acumular a gestão de outra importante maternidade do Estado que é o Hospital Estadual da Mãe. Este último, igualmente premiado no passado por sua excelência, teve, também, deteriorada a qualidade de seu atendimento nos últimos anos.

Definitivamente, nossa Saúde está doente.