CREMERJ RECOMENDA MEDIDAS AOS MÉDICOS

CREMERJ dispõe sobre o atendimento médico ambulatorial no Estado do Rio de Janeiro na vigência da pandemia de COVID-19

O CREMERJ, no uso de sua competência atribuída pela Lei 3268/57 e pelo Decreto Lei 44.045/58:

– Considerando a excepcionalidade causada pela ocorrência da pandemia do Covid 19 e a necessidade de conter a disseminação da doença no Estado do Rio de Janeiro
– Considerando as medidas recentes divulgadas pelo Exmo. Sr. Governador do Estado do Rio de Janeiro determinando a restrição da movimentação de pessoas e normatizando o acesso da população aos Serviços de Saúde
– Considerando que para a contenção da disseminação da doença, além das medidas restritivas à aglomeração de pessoas, torna-se essencial que as vagas para atendimento disponibilizadas nos Serviços de Saúde para esta demanda excepcional estejam acompanhadas de condições de segurança e número suficiente de profissionais de saúde para execução desta tarefa

Recomenda:

Art 1º – Em Clínicas e ambientes hospitalares

1 – Os profissionais de saúde, na rede pública e privada, só devem atender a população de risco com o uso do de equipamentos de proteção individual (EPI), compostos, minimamente, de máscaras de proteção, luvas descartáveis e quando for o caso, avental de proteção.

2 – As Unidades de Saúde obrigam-se a fornecer aos profissionais de saúde este material mínimo

3- Para atendimento médico é suficiente a utilização de máscara cirúrgica padrão, além do avental e luvas descartáveis. Para procedimentos que coloquem o profissional em contato direto com secreção do paciente é obrigatório o uso de máscaras padrão N95 e óculos de proteção. Em Unidades intensivas e semi-intensivas é obrigatório o uso de máscara padrão N95

4 – Nas salas de espera de atendimento das clínicas e hospitais (triagem e/ou acolhimento) deve ser respeitado o espaço mínimo de segurança entre as pessoas em espera de 1 metro de distância para todos os lados. Lotado o espaço reservado para espera, os eventuais pacientes devem aguardar avaliação do lado de fora da Unidade de Saúde.

5 – Pacientes portadores de febre e tosse devem também utilizar mascaras de proteção, desde sua entrada na Unidade de Saúde, sendo estas máscaras fornecidas pelo serviço de saúde. As máscaras deverão estar disponíveis em local visível na entrada das unidades.

6 – A autoridade sanitária deve promover campanha de esclarecimento à população, no sentido de restringir ao máximo sua ida as Unidades de Saúde. A população deve ser alertada para o risco da visita desnecessária ao Hospital. No caso de suspeita de infeções respiratórias compatíveis com COVID 19, os pacientes devem, inicialmente, permanecer recolhidos em sua residência, devendo comparecer as Unidades de Saúde apenas se portadores de febre, tosse e dificuldade respiratória.

7 – A previsão de vagas de atendimento nas Unidades de Saúde estabelecidas pela Autoridade Sanitária deve, necessariamente, ser compatível com o número de profissionais médicos de saúde existentes para o atendimento, todos devidamente habilitados e aptos ao exercício desta atividade.

Art 2º – Em Consultório Médico

1 – É obrigatório a existência, no consultório médico, do equipamento mínimo de proteção individual, composto de máscara e luvas descartáveis. A critério do médico pode também ser utilizado na consulta aventais descartáveis.

2 – Os equipamentos de proteção devem, obrigatoriamente, ser utilizados pelo médico no atendimento de pacientes portadores de febre e tosse. A critério do médico, os equipamentos podem ser utilizados em todo tipo de consulta.

3 – Entre cada consulta e/ou procedimento, independente do uso de luva, o médico deve, preferencialmente, à vista do paciente, lavar as mãos com agua e sabão e/ou álcool 70º.

4 – Sugere-se, fortemente, que os pacientes portadores de febre e tosse também utilizem máscaras de proteção. Essas máscaras podem ser fornecidas pelo médico ou trazidas pelo próprio paciente. O atendimento pode ser restringido aos pacientes protegidos com máscara. Neste caso, os pacientes devem ser, previamente, informados que só terão acesso ao consultório em uso das máscaras solicitadas.

5 – O número de pacientes e acompanhantes esperando na sala de espera deve ser compatível com o espaço existente, garantindo a distância mínima de 1 metro para todos os lados entre as pessoas presentes na sala de espera. Estando esta cheia, os pacientes e acompanhantes devem ser orientados a esperar fora da sala, preferencialmente na recepção do empreendimento ou em local aberto.

6 – Deve ser permitida a presença do menor número possivel de acompanhantes dos pacientes. Esta restrição deve ser avisada no momento da marcação da consulta. Reduzir ao máximo a presença de objetos que possam servir de fonte de contágio de infecção, como livros e brinquedos nos consultórios pediátricos

7 – Na recepção do consultório deve ser disponibilizada solução de álcool 70º para uso dos paciente e acompanhantes na sua entrada.

Art 3º- Esta recomendação entra em vigor imediatamente, vigorando enquanto durar a pandemia de corona vírus no país.

Sobre a realização de procedimentos e cirurgias eletivas no Estado do Rio de Janeiro na vigência da pandemia de COVID-19, o CREMERJ, no uso de sua competência atribuída pela Lei 3268/57 e pelo Decreto Lei 44.045/58,
CONSIDERANDO a excepcionalidade causada pela ocorrência da pandemia do COVID-19 e a necessidade de conter a disseminação da doença no Estado do Rio de Janeiro

– CONSIDERANDO as medidas recentes divulgadas pelo Exmo. Sr. Governador do Estado do Rio de Janeiro determinando a restrição da movimentação de pessoas e normatizando o acesso da população aos Serviços de Saúde
– CONSIDERANDO que para a contenção da disseminação da doença, além das medidas restritivas à aglomeração de pessoas torna-se essencial que as vagas para atendimento disponibilizadas nos Serviços de Saúde para esta demanda excepcional estejam acompanhadas de condições de segurança e número suficiente de profissionais de saúde para execução desta tarefa
– CONSIDERANDO que os pacientes portadores de doença CRÔNICA representam em torno de 25 a 50% dos pacientes infectados, e que apresentam maiores taxas de mortalidade;
– CONSIDERANDO que os pacientes com câncer apresentam taxa de mortalidade de 5,6%;
– CONSIDERANDO que os pacientes com hipertensão arterial sistêmica apresentam taxa de mortalidade de 6%;
– CONSIDERANDO que os pacientes com diabetes apresentam taxa de mortalidade de 7,3%;
– CONSIDERANDO que os pacientes com doença cardiovascular apresentam taxa de mortalidade de 10,5%;
– CONSIDERANDO que os fatores associados a maior chance de morte são: idade acima de 50 anos, presença de doenças crônicas;
– CONSIDERANDO que 60% dos pacientes apresentam alterações radiológicas no tórax e 89% alterações na tomografia de tórax;
– CONSIDERANDO que os pacientes com doença cardiovascular tem maior chance de se contaminar com o vírus;
– CONSIDERANDO que a realização de cirurgias eletivas que demandem pós-operatório em CTI pode obstruir um leito de terapia intensiva em caso de necessidade
– CONSIDERANDO que a realização de cirurgias eletivas aumenta a circulação de pessoas nas ruas (Acesso aos hospitais) e dentro dos hospitais (responsáveis e visitas)
– CONSIDERANDO a decisão do dia 12/03/2020 da Agencia Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que suspende a cobrança de cumprimento pelas operadoras de saúde de prazos de atendimento para a realização de procedimentos eletivos.

RESOLVE

– Recomendar o cancelamento das cirurgias e procedimentos invasivos – eletivos – de pacientes com doença benigna, exceto cirurgias cardíacas e aqueles cuja suspensão possa gerar risco a curto prazo para a saúde do paciente.
– Recomendar o cancelamento das cirurgias e procedimentos invasivos – eletivos – em pacientes com fatores de risco (Idade maior de 50 anos, hipertensos, diabéticos, cardiopatas, pneumopatas, renais crônicos e tabagistas) para o agravamento da COVID-19
– Recomendar o preenchimento de consentimento informado específico (ver anexo), para as cirurgias e procedimentos invasivos – eletivos.
– Recomendar o cancelamento de cirurgias que necessitem o uso de leitos de terapia intensiva, exceto os casos considerados urgências, emergências, procedimentos e cirurgias oncológicas / cardíacas.
– Recomendar que o Responsável Técnico da unidade hospitalar mantenha reservados os leitos de terapia intensiva para a epidemia de tal forma que as cirurgias e procedimentos invasivos – eletivos – não deixem pacientes de Covid 19 sem acesso a leitos dessas unidades.

Saúde e Educação: sempre unidos, sempre esquecidos

O Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) publicou, neste mês de dezembro, uma pesquisa, realizada entre os anos de 2001 e 2013, sobre como atrair médicos para as áreas mais carentes destes profissionais. Foi observado que, embora também de grande relevância, os salários e a infraestrutura não foram os fatores que mais influenciaram na escolha do local de trabalho. Os estudos revelaram que o que mais pesou na opção pela região onde trabalhar foi a proximidade dos locais onde residem ou estudaram.

Segundo as pesquisas do Prof. Dr. Mário Scheffer (Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), ocorreu um crescimento linear na proporção de médicos de 1980 (1,15 médicos/1000 habitantes) até 2015 (2,11 médicos/1000 habitantes), quando iniciou um crescimento menos acelerado e fechou o ano de 2018 com 2,18 médicos/1000 habitantes. Porém, sempre foi constatado que persiste a desigualdade na distribuição dos médicos, com maior concentração deles nas regiões Sudeste e Sul e, principalmente, nas capitais dos estados (interior do Rio de Janeiro com 2,11 médicos/1000 habitantes e o interior do Piauí com 0,01 médicos/1000 habitantes).

De volta à pesquisa do IEPS, fica demonstrado melhor custo-benefício no investimento em construção de novas escolas de Medicina, em relação aos recursos utilizados nos programas governamentais dos modelos “Mais Médicos” ou “Médicos Pelo Brasil”.

Sendo assim, penso que o Ministério da Saúde deveria rever a estratégia que visa a melhoria na distribuição dos médicos pelo Brasil, com objetivo de aumentar a abrangência da assistência à saúde em nosso país. Se a intenção é o desenvolvimento, é imperativo e urgente investir em Saúde e Educação, e não só utilizar como apenas bandeiras de campanha eleitoral.

O esfacelamento da Saúde no Rio de Janeiro

A saúde pública no Rio de Janeiro está esfacelada. A crise atinge às unidades de saúde administradas por diversos modelos de gestão, seja por OSs, por empresas públicas ou com servidores concursados. Isso demonstra que o problema não está em quem, mas como esta gestão é feita. Por incompetência, ou má-fé, o fato é que a rede pública está desabastecida e sem condições de trabalho para os profissionais de saúde que, além de terem seus salários atrasados há meses, ficam expostos à precariedade da situação.

Me causa espanto, a colocação da Secretaria Municipal de Saúde, em um tom de (pasmem) indignação, afirmar que “TODAS as unidades seguem de portas abertas, funcionando com classificação de risco, priorizando o atendimento aos casos mais graves e urgentes – como é praxe em hospitais de urgência e emergência”, disse a Secretária Municipal de Saúde como se tudo estivesse de acordo com a normalidade. Por outro lado, equipes de jornalismo que percorreram a rede, desmentem este fato.

Ainda a SMS diz em nota enviada pela Prefeitura que “os sindicatos se comprometeram com a justiça a manter 50% do efetivo” e que “as direções das unidades cobram esse efetivo e fiscalizam se o acordo está sendo cumprido por parte do sindicato”. Seria essa, realmente, a postura que o Poder Executivo deveria tomar? Se posicionar como “fiz o que tinha que fazer” e transferir a responsabilidade de cumprimento e fiscalização do acordo para terceiros?

Embora tardiamente, a Comissão de Saúde da Câmara dos Vereadores fez uma vistoria, no último sábado, e constatou a falta de condições de trabalho e de profissionais de saúde. Certo, mas, na prática, tomarão alguma ação efetiva para buscar uma solução do problema?

Muito preocupante não ver nenhuma informação ou atitude concreta em relação ao fato gerador de toda essa situação.

Afinal, quando virão os recursos para abastecimento e pagamento dos profissionais de saúde?

Burnout

As taxas da síndrome de “burnout”, ou síndrome do esgotamento, entre profissionais na área da Saúde, são bem estudadas e demonstradas como bem elevadas. Longas jornadas de trabalho em ambientes estressantes, em muitos casos com condições precárias, são os principais fatores que contribuem para esta condição, onde muitos chegam a pensar em desistir da profissão. Igualmente preocupante é o fato desta situação estar diretamente relacionada à qualidade do serviço prestado e com interferência na segurança do paciente. Os tratamentos, em geral, são mais extensos e onerosos, embora necessários. Além disso, existe o custo da empresa decorrente do afastamento de seus colaboradores. Cobertura, ou mesmo substituição, do profissional ausente implica em novo treinamento e período de adaptação na função.

Como em vários outros exemplos, a prevenção traz os melhores resultados. Investir em soluções que tragam satisfação no ambiente de trabalho tem um impacto positivo no compromisso intelectual, emocional e comportamental. Devemos buscar práticas de gestão que tragam mais alegria e bem-estar para a força de trabalho. Iniciativas assim trazem menos desgaste, menos erros ou desperdícios, maior produtividade dos funcionários e consequente satisfação dos clientes. Com isso, é de se esperar uma menor frequência de afastamentos por stress. O significado estratégico de melhorar a alegria no trabalho começa a ser visto pela Saúde e, mesmo que impactante, é uma oportunidade ainda subutilizada. Criar ambientes de trabalho nos quais as pessoas percebem significado e propósito, melhora os resultados e a segurança do paciente, bem como a eficácia e a produtividade da organização.

As lideranças, em seus diversos níveis, devem estar empenhadas em detectar e entender os fatores que trazem insatisfação. Funcionários alegres, engajados e produtivos sentem-se física e psicologicamente mais seguros. Algumas ações simples realizadas pelos diretores, coordenadores e líderes, preferencialmente com auxílio do Departamento de Recursos Humanos, podem gerar resultados expressivos.

A Direção deve tornar a ambiência uma prioridade e vinculá-la às prioridades estratégicas da organização. Precisa estabelecer uma base de segurança psicológica, coerência e justiça. Para tal, deve comunicar a visão organizacional para possibilitar que os funcionários tenham uma percepção clara do seu trabalho, alinhado com a missão geral da organização, e garantir que eles possam unir significado e propósito às suas atividades. Fundamental buscar entender o cotidiano das pessoas na empresa e abordar o que é importante para elas, assim como incorporar a busca contínua da excelência através da melhoria, com a inclusão de mecanismos de medição em tempo real, para reconhecimento e suporte das ações.

Coordenadores e líderes devem criar equipes coesas e de alto desempenho, por meio de relacionamentos baseados na confiança, na comunicação clara e aberta, e no trabalho em equipe. Nem sempre os funcionários tomam a iniciativa, logo, é sempre interessante perguntar a eles o que consideram importante. Questionar “O que podemos fazer hoje?”, pois essa conjugação ajuda todos a verem a organização como “nós” e não como “eles”. Escutar o que têm a dizer trará importantes subsídios para tomadas de decisão, além de fazer com que se sintam prestigiados e ouvidos. Cabe aos líderes encorajar a confiança, e dividir com seus liderados a responsabilidade e geração de soluções para os desafios que surgirem. Necessário incorporar a busca da excelência através de um foco diário na melhoria, com sistemas de medição em tempo real. Abordar questões locais e soluções de coprodução diariamente entre os membros da equipe, com o objetivo de erradicar o trabalho sem valor agregado, e envolvê-los na tomada de decisões ou na gestão participativa. Mostrar uma preocupação autêntica pelo desenvolvimento e sucesso de carreira, resiliência e bem-estar pessoal dos colaboradores, além de apoiar sistemas equitativos para questões fundamentais relacionadas a recursos humanos. Importante a criação, e aplicação, de instrumentos que sejam capazes de avaliar a eficácia das mudanças implementadas. A mensuração e comparação das iniciativas auxilia na decisão de manter, aprimorar ou interromper determinadas ações. As coordenações também devem monitorar de forma contínua os processos e circunstâncias, para identificar eventuais impeditivos para o bem-estar profissional, social e psicológico. Todos devem ter a percepção e a segurança que suas ideias, opiniões e críticas serão ouvidas e consideradas.

As equipes multidisciplinares devem agir com transdisciplinaridade. Ou seja, não trabalhar somente em conjunto, mas sim de uma forma sinérgica onde as diversas óticas das categorias profissionais se complementem. No lugar de um conjunto de pessoas devemos ter um time, na essência da palavra, onde todos colaboram de forma igualitária na busca de resultados e remoção de eventuais obstáculos.

Indivíduos em todos os níveis da organização podem contribuir para um ambiente mais alegre e comprometer-se, diariamente, com a melhoraria própria e de seus processos de trabalho. Importante manter o foco no papel que desempenham no alcance da missão e da visão. Assumir a responsabilidade por interações respeitosas com os outros. Cuidar de sua própria saúde, bem-estar e resiliência. Falar com ideias, preocupações e perguntas, além de ajudar os colegas a fazer o mesmo. Contribuir para a medição em tempo real da satisfação e engajar-se em um diálogo contínuo sobre ela na equipe de trabalho.

Idealmente, essas ações se reúnem por meio de uma abordagem de melhoria de ciclo rápido, por meio de testes iterativos de mudança. Isso levará a um senso de significado e propósito, escolha, flexibilidade e camaradagem, que são marcas de uma equipe feliz e produtiva, concorrendo para melhorar os resultados dos pacientes e diminuir as taxas de “burnout”.

Enfim, todos devem concentrar esforços na criação de um ambiente de trabalho agradável. A responsabilidade deve ser compartilhada desde os diretores até a linha de frente, com a inclusão de gerentes, líderes e funcionários individuais, para o desenvolvimento de uma cultura de respeito mútuo, transparência, bem-estar e segurança.