Burnout

As taxas da síndrome de “burnout”, ou síndrome do esgotamento, entre profissionais na área da Saúde, são bem estudadas e demonstradas como bem elevadas. Longas jornadas de trabalho em ambientes estressantes, em muitos casos com condições precárias, são os principais fatores que contribuem para esta condição, onde muitos chegam a pensar em desistir da profissão. Igualmente preocupante é o fato desta situação estar diretamente relacionada à qualidade do serviço prestado e com interferência na segurança do paciente. Os tratamentos, em geral, são mais extensos e onerosos, embora necessários. Além disso, existe o custo da empresa decorrente do afastamento de seus colaboradores. Cobertura, ou mesmo substituição, do profissional ausente implica em novo treinamento e período de adaptação na função.

Como em vários outros exemplos, a prevenção traz os melhores resultados. Investir em soluções que tragam satisfação no ambiente de trabalho tem um impacto positivo no compromisso intelectual, emocional e comportamental. Devemos buscar práticas de gestão que tragam mais alegria e bem-estar para a força de trabalho. Iniciativas assim trazem menos desgaste, menos erros ou desperdícios, maior produtividade dos funcionários e consequente satisfação dos clientes. Com isso, é de se esperar uma menor frequência de afastamentos por stress. O significado estratégico de melhorar a alegria no trabalho começa a ser visto pela Saúde e, mesmo que impactante, é uma oportunidade ainda subutilizada. Criar ambientes de trabalho nos quais as pessoas percebem significado e propósito, melhora os resultados e a segurança do paciente, bem como a eficácia e a produtividade da organização.

As lideranças, em seus diversos níveis, devem estar empenhadas em detectar e entender os fatores que trazem insatisfação. Funcionários alegres, engajados e produtivos sentem-se física e psicologicamente mais seguros. Algumas ações simples realizadas pelos diretores, coordenadores e líderes, preferencialmente com auxílio do Departamento de Recursos Humanos, podem gerar resultados expressivos.

A Direção deve tornar a ambiência uma prioridade e vinculá-la às prioridades estratégicas da organização. Precisa estabelecer uma base de segurança psicológica, coerência e justiça. Para tal, deve comunicar a visão organizacional para possibilitar que os funcionários tenham uma percepção clara do seu trabalho, alinhado com a missão geral da organização, e garantir que eles possam unir significado e propósito às suas atividades. Fundamental buscar entender o cotidiano das pessoas na empresa e abordar o que é importante para elas, assim como incorporar a busca contínua da excelência através da melhoria, com a inclusão de mecanismos de medição em tempo real, para reconhecimento e suporte das ações.

Coordenadores e líderes devem criar equipes coesas e de alto desempenho, por meio de relacionamentos baseados na confiança, na comunicação clara e aberta, e no trabalho em equipe. Nem sempre os funcionários tomam a iniciativa, logo, é sempre interessante perguntar a eles o que consideram importante. Questionar “O que podemos fazer hoje?”, pois essa conjugação ajuda todos a verem a organização como “nós” e não como “eles”. Escutar o que têm a dizer trará importantes subsídios para tomadas de decisão, além de fazer com que se sintam prestigiados e ouvidos. Cabe aos líderes encorajar a confiança, e dividir com seus liderados a responsabilidade e geração de soluções para os desafios que surgirem. Necessário incorporar a busca da excelência através de um foco diário na melhoria, com sistemas de medição em tempo real. Abordar questões locais e soluções de coprodução diariamente entre os membros da equipe, com o objetivo de erradicar o trabalho sem valor agregado, e envolvê-los na tomada de decisões ou na gestão participativa. Mostrar uma preocupação autêntica pelo desenvolvimento e sucesso de carreira, resiliência e bem-estar pessoal dos colaboradores, além de apoiar sistemas equitativos para questões fundamentais relacionadas a recursos humanos. Importante a criação, e aplicação, de instrumentos que sejam capazes de avaliar a eficácia das mudanças implementadas. A mensuração e comparação das iniciativas auxilia na decisão de manter, aprimorar ou interromper determinadas ações. As coordenações também devem monitorar de forma contínua os processos e circunstâncias, para identificar eventuais impeditivos para o bem-estar profissional, social e psicológico. Todos devem ter a percepção e a segurança que suas ideias, opiniões e críticas serão ouvidas e consideradas.

As equipes multidisciplinares devem agir com transdisciplinaridade. Ou seja, não trabalhar somente em conjunto, mas sim de uma forma sinérgica onde as diversas óticas das categorias profissionais se complementem. No lugar de um conjunto de pessoas devemos ter um time, na essência da palavra, onde todos colaboram de forma igualitária na busca de resultados e remoção de eventuais obstáculos.

Indivíduos em todos os níveis da organização podem contribuir para um ambiente mais alegre e comprometer-se, diariamente, com a melhoraria própria e de seus processos de trabalho. Importante manter o foco no papel que desempenham no alcance da missão e da visão. Assumir a responsabilidade por interações respeitosas com os outros. Cuidar de sua própria saúde, bem-estar e resiliência. Falar com ideias, preocupações e perguntas, além de ajudar os colegas a fazer o mesmo. Contribuir para a medição em tempo real da satisfação e engajar-se em um diálogo contínuo sobre ela na equipe de trabalho.

Idealmente, essas ações se reúnem por meio de uma abordagem de melhoria de ciclo rápido, por meio de testes iterativos de mudança. Isso levará a um senso de significado e propósito, escolha, flexibilidade e camaradagem, que são marcas de uma equipe feliz e produtiva, concorrendo para melhorar os resultados dos pacientes e diminuir as taxas de “burnout”.

Enfim, todos devem concentrar esforços na criação de um ambiente de trabalho agradável. A responsabilidade deve ser compartilhada desde os diretores até a linha de frente, com a inclusão de gerentes, líderes e funcionários individuais, para o desenvolvimento de uma cultura de respeito mútuo, transparência, bem-estar e segurança.

‘Feminismo não pode ser lugar de mulheres com ódio de homem’, diz Camille Paglia

Em entrevista, ensaísta e professora diz que movimento se tornou ‘uma religião’ e defende o que chama de protagonismo feminino autêntico.

Governo quer privatizar Correios

Vejo como atribuições do Governo a Educação, a Saúde e a Segurança Pública. Não entendo como uma das atribuições estatais fundamentais a entrega de cartas e encomendas. Além disso, o que temos testemunhado nos últimos anos foram vários escândalos de corrupção envolvendo a empresa, uso político de seus quadros e prejuízos que já chegaram a 2 bilhões no ano. Uma empresa que já foi modelo de credibilidade, algumas décadas atrás, hoje em dia gasta milhões em indenizações por perdas e estravios ocasionados por má gestão.
Acredito que, com a privatização, ganha seus usuários e a Empresa de Correios e Telégrafos pode resgatar sua confiabilidade histórica.

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Hipertensão: a responsabilidade é de todos nós

Por ocasião do Dia Nacional de Prevenção à Hipertensão Arterial, 26 de abril, cabe uma sugestão que, se acatada, reduziria muito a ocorrência e as complicações desse grave problema em nosso país. A proposta é: medir a pressão de todos os pacientes atendidos na rede pública.
Seria um avanço em termos de prevenção, porque cerca de 80% dos brasileiros utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS). Ou seja, teríamos uma ampla cobertura no controle desse mal.
A pertinência dessa medida se torna ainda mais enfática ante a constatação de que, no Brasil, apenas 15% dos hipertensos estão diagnosticados, tratados e controlados. Deve-se frisar, ainda, que o constante monitoramento dos pacientes é fundamental, pois vários abandonam os remédios ou sequer iniciam o tratamento.
Isso ocorre porque, na maioria dos casos, a hipertensão é assintomática. É urgente criar um hábito relativo ao tratamento correto e sistemático, com o devido acompanhamento.
Seria importante, nos primeiros meses dos governos estaduais e federal, que as autoridades da área dessem especial atenção a esse cenário, considerado um dos mais graves do mundo na saúde pública. Os números assustam: de 20 a 30 % dos adultos são hipertensos.
Na faixa etária entre 65 e 80 anos, o mal atinge 40% dos indivíduos. Dentre os maiores de 80, metade possui pressão alta – e essa é uma das causas mais recorrentes de quadros como infarto do miocárdio, AVC, aneurisma e insuficiência cardíaca, responsáveis por um terço das mortes no Brasil.
Assim, o combate à hipertensão é prioritário. E o melhor caminho é a prevenção, eliminando os fatores de risco. São eles: tabagismo, alimentação inadequada, obesidade, sedentarismo, colesterol e triglicérides elevados, excesso de consumo de sal e álcool, estresse e diabetes.
Virando a moeda, fica claro que dieta saudável, atividade física regular (sempre após orientação), abandono do cigarro, redução do consumo de sal e moderação no álcool, emagrecimento e fuga do estresse são as principais medidas preventivas. Uma avaliação médica periódica completa a lista de táticas que deixam a pressão nos níveis ideais.
A hipertensão afeta hoje 40 milhões de brasileiros. O serviço público atende de maneira razoável no tocante aos medicamentos e tratamentos regulares. No entanto, a questão mais preocupante é a resistência dos indivíduos em não alterar seus hábitos cotidianos. É essa cultura que precisa ser alterada para evitarmos milhões de mortes anuais.
Cuidar de algo tão expressivo não é missão somente do governo, mas também das famílias, empresas e toda a sociedade. Todos são responsáveis pela promoção da vida!

*José Francisco Kerr Saraiva, médico, é presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp)

Censura

Muito preocupante a censura promovida pelo Ministro Alexandre de Moraes, em relação à matéria publicada na revista Crusoé. Penso que a liberdade de expressão é fundamental para uma democracia saudável. Entendo também que qualquer cidadão, o que inclui os ministros do STF, tem total liberdade de, no caso de se sentirem ofendidos ou difamados, recorrer aos instrumentos jurídicos existentes para a preservação de sua honra ou imagem.
Em primeiro lugar foi um erro estratégico grosseiro pois, se a intenção era evitar a divulgação do que foi citado pelo Marcelo Odebrecht sobre “o amigo do amigo do meu pai”, deu mais notoriedade à matéria publicada, uma vez que despertou a curiosidade de pessoas que não são leitores rotineiros desta revista e, com a ampla divulgação da reportagem através das mídias sociais, tiveram acesso ao texto integral. Além disso, também preocupa a retirada no processo deste documento com o depoimento do Marcelo Odebrecht, sem que haja uma explicação plausível para tal. Por fim, devo ressaltar que não tenho vergonha do STF. O Supremo Tribunal Federal constitui um dos três poderes que servem como base do nosso Estado democrático de direito. Não posso confundir a instituição com as ações tomadas por ministros que estão lá em caráter temporário. Tenho, sim, vergonha de alguns comportamentos e decisões que temos acompanhado ultimamente.

A Prefeitura que eu quero

A Prefeitura do Rio de Janeiro tem dado muitas explicações, em relação à última enchente, como “chuvas atípicas”, fatalidade, etc.. Também tem se preocupado em instruir a população sobre como se comportar antes de durante os inevitáveis temporais que têm ocorrido cada vez com maior frequência, o que não deixa de ser válido. Mas tenho sentido falta de ações necessárias, da própria Prefeitura, no sentido de evitar, ou mesmo minimizar, a tragédia ocasionada por estas inundações e deslizamentos. Gostaria de ver obras de contenção de encostas nas áreas de risco, construção de mais reservatórios subterrâneos de águas pluviais (“piscinões), utilização de revestimentos permeáveis em ruas e calçadas para evitar que fiquem alagados, projetos de urbanização que leva em conta o escoamento nas águas de chuva, além de maior fiscalização e combate às obras irregulares. Essa é a Prefeitura que eu quero.

Conheça o seu novo colaborador: o paciente

Quando estamos à frente da gestão de uma Unidade de Saúde, principalmente quando já há algum tempo, temos a tendência em acreditar que conhecemos cada detalhe de cada processo empregado. Entendemos as facilidades e dificuldades na implementação de cada movimento. Acreditamos na adequação de cada rotina estabelecida. Afinal, tudo foi meticulosamente estudado e discutido com uma equipe na qual confiamos.

Entretanto, devemos compreender que estas unidades funcionam como verdadeiros “organismos vivos”, onde há necessidade de constantes reavaliações e eventuais redirecionamentos. Não raro há alterações de demandas, que causam desalinho com o planejamento anterior. Estas mudanças podem ser tanto quantitativas, como as observadas, por exemplo, em um período de “ramp-up” de uma estrutura nova, quanto qualitativos quando há modificações no perfil da população que procura atendimento.

Contudo, percebo que falta, em grande parte dos Serviços, a contribuição de um olhar extremamente difícil de ser praticado pelos profissionais no exercício da sua função, quando precisamos criar novo processo. A visão de nosso cliente final: o paciente. Este tem uma observação mais holística dos cuidados que lhe são oferecidos, diferente de uma percepção mais segmentar dos profissionais que lhe prestam serviços.

Em uma revisão sistemática canadense, que envolveu 48 estudos realizados em diversos países, a Dra. Yvonne Bombard (PhD, BSc e pesquisadora no Hospital Saint Michael) constatou que envolver os pacientes no redesenho de Serviços de Saúde traz maior eficiência e eficácia nos cuidados, além de uma redução nas internações hospitalares. Ainda neste estudo, ficou constatado que quanto maior o envolvimento dos pacientes na criação de processos, melhor o nível de resultados.

Não quero, com isso desmerecer os Serviços de Ouvidoria. Entendo que são fundamentais dentro de unidades de saúde e precisam ter um vínculo direto e exclusivo com o diretor geral. Esta atividade é importante na detecção de eventuais falhas de processo, bem como nos municia com sugestões que podem ser utilizadas na formulação de novas estratégias.

Porém, se a intenção for desenhar, ou mesmo redesenhar, uma linha de cuidados, penso que o engajamento de pacientes deva ser maior. Evidentemente, em um primeiro momento, pode surgir neles um sentimento de desconfiança. Nestes casos, é essencial deixar clara a importância de suas opiniões na discussão de modelos de ação. Mas esta participação não deve ser, como vemos em alguns locais, de maneira “ad hoc”. O paciente deve participar de todas as etapas do processo, desde o início até a ambiência, de forma clara e transparente. Assim, poderá compreender melhor eventuais impossibilidades, ou mesmo resultados aparentemente não estão adequados, para que sua colaboração tem a maior efetividade. Esta maior participação lhes proporcionará maior motivação e confiança para externarem suas ideias.

Por fim, entendo que o envolvimento efetivo do paciente com a equipe de trabalho na elaboração de um planejamento estratégico, bem como a flexibilização de paradigmas, é fundamental para o aprimoramento de Serviços de Saúde.

Tragédia anunciada


Há apenas três dias publiquei um texto, por ocasião da enchente que assolou várias áreas do Rio de Janeiro. Coloquei como uma das causas as construções irregulares, uma vez que produzem verdadeiros tamponamentos em terrenos anteriormente permeáveis, além de interferir diretamente no escoamento das águas.
Hoje em nova tragédia ocorrida na comunidade da Muzema, na zona oeste de nossa cidade, dois prédios construídos irregularmente desmoronaram, causando mortos e feridos. Segundo informações da prefeitura, já havia sido entregue notificação para interdição da referida obra. Porém, alguns pontos da região, onde se localiza esta comunidade, são comandados por milícias que “autorizaram” e “protegeram” a obra ilegal. Sendo assim, a construção desprovida de qualquer controle, ou mesmo preocupação, em relação à segurança, aumenta enormemente a chance de se tornar uma tragédia anunciada. Por outro lado, o governo municipal se demonstra impotente, perante este poder paralelo das milícias, por não conseguir impedir esse tipo de acontecimento.
Isto posto, permanece a dúvida:
Até quando ficaremos reféns da marginalidade e assistindo a inoperância do governo para deter este tipo de situação?

Trem ou ônibus?

Hoje completam 100 dias de governo do Wilson Witzel.
Na sua campanha, prometeu a substituição dos ônibus BRT por trens modelo VLT, mas não o vi tocar mais no assunto.
Penso que seria um grande passo para o início de modernização no transporte público em nossa cidade. O VLT transporta muito mais gente, com energia limpa e não poluente, além de já ter as baias e terminais que podem ser aproveitados.Enquanto isso, na Zona Oeste, os ônibus BRT estão sucateados, levam desconforto e até risco para os passageiros. Já chegou, inclusive, ao extremo de um deles soltar uma roda enquanto trafegava. Um dia peguei um desses ônibus BRT do aeroporto até a estação da Alvorada. Seria cômico, se não fosse trágico, quando li no muro de uma casa no trajeto: “Uns têm conforto, outros tem BRT”. Transporte de massa é transporte sobre trilhos. Enquanto o mundo civilizado investe em trens e metrôs, velozes e confortáveis, aqui no Brasil ainda insistem em transporte sobre rodas…

Chuvas

Mais um temporal, mais inundações, mais mortes.
Esta história sem fim sempre cai na conta de tragédias da natureza.
Será? Será que não tem solução? Será que estas situações serão classificadas eternamente como imprevisíveis e insolúveis?
A cidade do Rio de Janeiro fica localizada em uma planície cercada de morros e montanhas, portanto, um cenário propício para deslizamentos e enchentes. Até entendo que na urbanização desta cidade não foi criado um sistema eficaz de escoamento das águas da chuva. Porém, isso não significa que não se possa realizar investimentos em ações preventivas nas áreas de risco de deslizamento ou inundações, além de projetos de urbanização que levem em conta a geografia da cidade. No ano passado, o município gastou apenas 66,2 milhões de reais para tentar evitar este problema recorrente (57,3% do previsto no orçamento para controle de enchentes e 78% menor do que o gasto em 2014). Também há falta de fiscalização nas áreas em que ocorrem construções irregulares, onde anteriormente havia vegetações e o solo era permeável, provocando um verdadeiro tamponamento do terreno e com impacto direto na falta de escoamento das águas.
Enfim, até quando teremos que conviver com esse caos decorrente do descaso e ineficácia do poder público?
Enquanto isso, assistimos o Rio de Janeiro entregue à própria sorte e ficamos torcendo para não chover …